O SAPATO VOADOR

                                         Austríaco chegou em casa, como sempre quase manhã. As noitadas estavam ficando cada vez melhores no seu clube noturno; primeiro a chegar, último a sair; sabia da importância do seu clube para manter o seu estilo de vida, afinal, filho de mãe baiana falsificada, não revelara a origem nem na hora final, com pai alemão, desaparecido, até chegar a proprietário de clube noturno, ralou direitinho em muitos e variados trabalhos.

                            Nada como chegar em casa, apartamento muito bom, esquina da Avenida principal da cidade com rua totalmente residencial, porteiro vinte e quatro horas, tudo que sonhara enquanto descarregava caminhões no mercado, garoto ainda, estava agora conseguindo. Deu um chute para o ar, como se chutasse as lembranças do passado, quando seu sapato saiu do pé, atravessou a janela aberta, caiu, despencou no vazio, oitavo andar, logo o sapato novinho, comprou pela internet, costurado a mão pelas aborígenes virgens da Austrália segundo a propaganda, macio, brilhante, parecia até mogno, o pé de sapato caindo, Austríaco se dando conta que quem perde um pé do sapato, perde o par, pensa em descer rápido para recuperar sua preciosidade, quando escuta o barulho da freada! Em seguida o barulho da pancada, deve ter sido forte! Entre descer os oito andares para recuperar o sapato e o receio de ser a queda do sapato que provocou o acidente, passa um tempo, suficiente para o porteiro bater na porta; Austríaco abre preocupado, será que viram o sapato sair da janela do apartamento dele? desce descalço, afinal para todos os efeitos estava se deitando, o porteiro lhe mostra seu carro; seu opala, em épocas áureas tivera até cor, hoje, ostentava manchas!  4.100cc, motor seis cilindros, câmbio com três marchas na coluna de direção, primeira série, batizado com nome de ¨Tenebroso¨ pelo seu ronco forte atravessando a cidade nas madrugadas; ¨Tenebroso¨, todo amassado na lateral, mais  ¨Tenebroso¨ ainda!

                                Explicações do porteiro, do motorista que tinha sofrido o acidente, tudo por culpa de um sapato que caiu não se sabe de onde, quebrou o para brisa, ele não enxergou nada, se assustou, o resultado foi aquele ali que a cada minuto mais e mais curiosos apareciam para ver de perto. Austríaco se abaixou, recolheu o sapato causador do fato, fez um carinho na capota do ¨Tenebroso¨ , com o sapato nas mãos se recolheu, pois amanhã era levar o  ¨Tenebroso¨ para oficina, voltar andando, precisava do par completo.



Luiz Carlos Fortes |Braga

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DÉCIO O SOLTEIRO E A GELADEIRA

Bar Cabaré Taverna Esquina Torta