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Mostrando postagens de fevereiro, 2024

MARTA E O BURACO NA CALÇADA

                                         Marta, faxineira de não recusar trabalho, afinal, eram duas meninas e um menino para criar. O pai, ajudante de carga e descarga de caminhões em trânsito pela cidade, não era todo dia que trazia um dinheirinho suficiente para manter acesa a chama do fogão a lenha. Todo dia saía cedo de casa,  correria, vestir uniforme nos três, café para quatro, sem deixar pingar na blusa do uniforme, deixar todos na escola, aí sim; ir trabalhar.                                   Caminhando rápido pela rua da praça, sem entender como, o chão sumiu! A calçada cedeu! Marta no buraco; só os ombros para cima, de fora do buraco. Dois observadores da natureza enfumaçada, olhavam a viagem diferente da ¨tia¨ em frente seus olhos. As pessoas que vinham atrás, do outro lado da rua, rapidamente se aproximaram para fazer ¨selfies¨; o fotógrafo do jornal da cidade que por acaso passava ali, viu na sua frente a chance de uma foto com condições de ¨ espinafrar¨ o prefeito, o bi

FRAGOSO E AS MODERNIDADES

                     Fragoso estava se esbaldando com as modernidades do momento. Nada de saudosismo; tinha que viver a vida com o que ela oferecia de mais atual, moderno; compras só pela internet, nada de lojas, filas de caixa para pagar, fila na secção de embrulhos, conversa de vendedor sempre querendo aumentar um ponto na venda, internet era no conforto de casa, esparramado na poltrona de massagens, com regulagem na intensidade dos movimentos; para que academia se tinha com o que se exercitar sem transpirar, copo especial que não deixava a temperatura do café abaixar, café feito na cafeteira especial, elétrica, parecia uma abelha cabeçuda, nada de pó, coador, tudo já vinha na medida certa. Um aparelho de regulagem da intensidade do ar, nem muito frio nem, quente; sua casa era uma ilha de conforto, tudo moderno elétrico, eletrônico e, etc, etc, sem poluir o planeta.                         Após um dia cansativo de home office, Fragoso descongelou um jantar no seu novo micro-ondas ver

ALCIDES E O PROGRESSO DIGITAL

                                         Alcides logo que começou a entender um pouco a existência, passou a não querer mais ser chamado pelo nome de batismo; Alcides. Passava a mão na cabeça, coçava a testa, se perguntava o motivo de justo ele ter um nome que começava com Alce; não, não concordava com a vontade dos pais. Quando perguntavam seu nome, era até cacoete, passava a mão na cabeça, coçava a testa e respondia: - Cidinho; nasceu Alcides, cresceu Cidinho, de tal forma que no banco que trabalhava alguém gritasse Alcides, nem ele olharia: era Cidinho.                                   Tempo passando, Cidinho no caixa, fila na porta da agência, vai na bancada conferir assinatura, volta, um olhar sério para o cliente, conta as notas, carimba, rubrica, entrega o dinheiro, vem outro, duplicata na mão, dinheiro junto, confere tudo, separa as notas, faz o calculo do troco naquela máquina de manivela, puxa o papel, carimba, rubrica, os dias iguais vão passando, hoje tem atualização para

DÉCIO O SOLTEIRO E A GELADEIRA

                                 Domingo, acordando depois de uma noite agitada de sábado, tentando se lembrar de detalhes que pensava ter vivido mas, não tinha certeza se eram sonhos ou realidade, Décio de muito má vontade se levantou da cama; levantou, modo de simplificar; foram algumas tentativas, só meio corpo se moveu; outra metade ganhou a luta por três ou quatro vezes. Depois de tantas tentativas se deu por vencida e, acompanhou o resto do corpo na sua jornada de abandonar a cama; relutou, relutou, mas foi vencida. Décio olhou pelas gretas da persiana, o sol parecia bem animado para um domingo, ele, bem desanimado! Saco vazio não para em pé, lá foi Décio consultar o que teria para o café da manhã; abriu a geladeira, aquela luz forte nos seus olhos o fez lembrar-se de colocar algum pote na frente daquela lâmpada. Os vidros de água estavam cheios, isso era bom! com certeza iria beber alguma água no decorrer do dia! pão; mofado dentro da geladeira, durou muito, última visita dele a