BERNADETH E SUA VEMAGUETE

                                         Sr. Bernardo, comerciante antigo no bairro mais populoso da cidade, tinha um cuidado todo especial com sua filha Bernadeth; não deixava de satisfazer seus desejos e, assim, comprou um patinete; ela e as amigas se divertiam rua abaixo apostando quem corria mais ou, descia antes do ponto marcado como final. Durava a tarde toda aquela festa das meninas na rua. A patinete foi o passo decisivo para Bernadeth passar a gostar de velocidade. Quinze anos, festa com baile, dela e das amigas, tanto falou no ouvido do pai que ganhou uma Leonette.

                                Ia para a escola motorizada, ela e cada dia uma amiga na garupa, para todas aproveitarem o presente; a Leonette gemia na subida; aquele motorzinho pequeno era ajudado por pedaladas rápidas  de Bernadeth, mas, na descida voava baixo, era sai da frente que lá vem Bernadeth e sua Leonette.

                                Um ano de aventuras e preocupações para Sr. Bernardo e sua esposa Elizabeth; veio de novo Bernadeth e suas vontades; queria uma Gullivett ! era mais moderna, mais rápida, mais bonita, a Leonette ela vendia para Anete, sua amiga de escola, o pai só pagava o restante. Primeira resposta é sempre negativa, a segunda muda para talvez, na terceira Bernadeth vence! Anete na Leonette, Bernadeth na Gullivett, os horizontes vão aumentando, já podem andar pela cidade sempre juntas, quem sabe até aparecem na coluna social do jornal da cidade! começa assim a criar forma uma nova vontade na cabeça de Bernadeth; coluna social, ela e, suas amigas.

                                Sr. Bernardo não resiste aos pedidos da filha e, sempre que sai no furgão para entregas ou algumas compras, vai ensinando Bernadeth a dirigir, ela por sua vez, estava traçando planos de abandonar a Gullivett e passar para a vemaguete abandonada na garagem do Sr. Bernardo. Uma conversa, outra, vai chegando perto do vestibular, a chance de conseguir o que quer vai aumentando, Sr. Bernardo promete um carro novo, mas, ela quer a vemaguete! pintadinha de branco, nada daquele tom de azul; os bancos em tecido bege, veludo astracã de preferência, rodas cromadas, Sr. Bernardo reluta, é um carro velho, antigo, parado há anos, saiu de moda, que desejo bobo querer justo a vemaguete!  Novo ela não quer; se passar no vestibular quer a vemaguete, vai gastar menos que comprar um carro novo e. carro novo todo mundo tem, a vemaguete...

                                Mais um passo dado em direção ao objetivo; Bernadeth, suas amigas Anete, Ivete, Odeth Margareth, iam fundar a turma ETH, ainda bem que não era E. T. , com todas na vemaguete, iam ficar vistas e, muito vistas na cidade, chegando então a coluna social! era só passar no vestibular e, começar a executar o plano.

                                Todo dia iam as Eths para as aulas na faculdade voltavam passando pelos pontos mais badalados da cidade, eram vistas mas, não eram faladas, só quem prestava atenção na Bernadeth era Deusdeth, rapaz famoso pelas namoradas e, vez ou outra pelas colunas sociais. Assim, já passava a fazer parte  dos planos das ETH. Um olhar, um sorrisinho, Deusdeth só teve o trabalho de escolher qual namoraria; acabou ficando com Bernadeth. Um fim de semana, depois de um show em uma casa noturna, Bernadeth e suas amigas foram levar Deudeth que morava na rua Sete, em casa. Quem sabe, eram todos vistos juntos! aí, elas conseguiriam aparecer na coluna social; tudo bem planejado, não fosse Edith, atual ex noiva de Deusdeth, que já chegou tentando esmurrar todas as ETH, só que o primeiro soco acertou Deusdeth;  Bernadeth entendendo de imediato a situação já foi dando um pisão no pé de Deusdeth, salto fino, pegou bem no dedão da unha encravada! parecia até que ela entrava para dentro do pé, indo vazar na sola do tênis. Deusdeth pensou em cair deitado na calçada para escapar da surra, as ETH não deixaram; veio tapa da direita, soco da esquerda, chute por  trás, pela frente, vizinhança aplaudindo, filmando, fotos e mais fotos, gritaria, policia! todo mundo para o distrito!

                                Dia seguinte, primeira página do jornal da cidade: Bernadeth, Anete, Margareth, Odeth, encostadas na vemaguete, Deusdeth caído na calçada, Edith, contida pelos policiais, a turma ETH virou manchete.




Luiz Carlos Fortes Braga

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

DÉCIO O SOLTEIRO E A GELADEIRA

                                 Domingo, acordando depois de uma noite agitada de sábado, tentando se lembrar de detalhes que pensava ter vivido mas, não tinha certeza se eram sonhos ou realidade, Décio de muito má vontade se levantou da cama; levantou, modo de simplificar; foram algumas tentativas, só meio corpo se moveu; outra metade ganhou a luta por três ou quatro vezes. Depois de tantas tentativas se deu por vencida e, acompanhou o resto do corpo na sua jornada de abandonar a cama; relutou, relutou, mas foi vencida. Décio olhou pelas gretas da persiana, o sol parecia bem animado para um domingo, ele, bem desanimado! Saco vazio não para em pé, lá foi Décio consultar o que teria para o café da manhã; abriu a geladeira, aquela luz forte nos seus olhos o fez lembrar-se de colocar algum pote na frente daquela lâmpada. Os vidros de água estavam cheios, isso era bom! com certeza iria beber alguma água no decorrer do dia! pão; mofado dentro da geladeira, durou muito, última visita dele a
Leia mais
                                                             A VINGANÇA DA VEMAGUET                 Dagoberto resolveu ir contra as tradições da família; nada de faculdade, formaturas, canudos; o projeto era conhecer o Brasil. O pai, Arizão, também chamado de Vellho Ari, cortou logo as mordomias do filho; o avô, gente boa, tinha um certo rabo preso com o neto, se propôs a financiar o começo do projeto; ficou um pouco decepcionado com o carro que Dagoberto comprou, não era um automóvel, era um carro! se era vontade dele, ele devia saber o que queria; nada de aero willys, simca, os preferidos da família; uma vemaguet! azul escuro, modelo Rio; encontrou a ¨pipoquete¨ como era chamada pelos familiares, principalmente pelo Velho Ari, que se recusava a aceitar carona nela, nos fundos da casa de um corretor zoológico que se recusava a vender seus carros usados, guardava todos em uma granja, alguns já eram até floreiras da esposa. Na família ninguém acreditou no que estava acontecendo; como Da
Leia mais

Bar Cabaré Taverna Esquina Torta

                        BAR CABARÉ TAVERNA                         ESQUINA TORTA             ONDE A ALEGRIA É CERTA.MAIOR VARIEDADE DE PRAZERES DA CIDADE,             DO ESTADO, DO PAÍS, QUIÇÁ DO MUNDO!!!!!!!                           Bar e Cabaré Esquina Torta a atração mais antiga da cidade. A placa chamativa tinha sido motivo de muitas desavenças entre autoridades do município e, o povo; até hoje o povo vence; o letreiro está lá, com todas as letras.                         BAR CABARÉ TAVERNA ESQUINA TORTA                         ONDE A ALEGRIA É CERTA.MAIOR VARIEDADE DE PRAZERES DA CIDADE                         DO ESTADO, DO PAÍS, QUIÇÁ DO MUNDO!!!!!!!!                         Este era o letreiro iluminado em vermelho com fundo branco. As portas altas, madeira torneada, desiguais no tamanho, uma mais larga que a outra, madeira torneada pintadas de vermelho, se abriam para um amplo salão, mais de trinta metros de profundidade, outros tantos de largura, seis metros
Leia mais